segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sirvais a Deus ou ao dinheiro?


O que parece ocorrer hodiernamente no mundo e nas pessoas é um processo de dessacralização, um afastamento circunstancial de tudo que permite a estupefação espiritual, o êxtase com sinal da aura de transcendentalidade. A vida dos indivíduos e da coletividade tem se subtraído destas sinuosidades criativas e místicas do ser humano, para aterem-se aos imediatismos, ao “exatismo” das coisas, às retidões dos traçados e das linhas sem as flexões e esquinas e pausas na dinâmica existencial. Deixa ao relento a própria peculiaridade do homem de ser um animal com uma capacidade de superação e de inventividade tamanha a ponto de construir realidades cada vez mais díspares com relação ao momento histórico anterior. Estas hipérboles sócio-evolutivas - que elegem o homem num plano de excelência com nexos com uma suposta divinização face ás conquistas, descobertas tecnológicas e estabelecimentos de novos horizontes dimensionais no que tange à visão e operacionalização da realidade – se conformam logo em “parábola com concavidades para baixo”. São parábolas que relatam matematicamente, pelo viés estatístico, o quanto nos auto-destruímos, com a falsa certeza que nosso sistema capitalista “darwiniano” é eficaz, e infelizmente nisto arrazoamos nossas decisões, não obstante a destruição da natureza, as centenas de milhares de mortes por ano vítima dos homicídios, acidentes de trânsito devido à correria pelo nada, a morte a granel pela omissão de dar alimentos aos mais pobres, etc.

Neste ínterim a religiosidade genuína, cuja atribuição é a tentativa de ligação do homem a uma divindade, vive uma crise existencial. Tamanha é esta crise que ocorre atualmente a perda de importância das ações desenvolvidas pelas igrejas, e quaisquer que forem; sofrem o desdém pelo simples entendimento de que estas não oferecem coerência com a filosofia capitalista.

As campanhas da fraternidade em anos anteriores obtinham a força de mobilização, ora por recursos de mídia, panfletagem, discussão nos programas de opinião. Hoje apenas faz parte de um cardápio comemorativo em segundo plano, apenas como tradição na contagem dos dias, como a comemoração de alguns “dias santos”, somente para curtir feriados e respirar um pouco, para a retomada da corrida pelo stress. O dia das mães, dia dos pais (em menor representatividade), dia dos namorados, carnaval, ainda sobrevivem por ainda tanger a mesma ordem consumista, viés essencial do sistema capitalista.

Nesta mudança de plano, a espiritualidade tem sido buscada numa paranóia estatisticamente plausível, mesmo em países em desenvolvimento. Os motivos são vários entre estes o predominante é que o funcionário, o homem, a mulher, a empresa espiritualizada é mais feliz e produz mais, por conseqüência da eficácia da saúde. Apesar de estar encadeada pelo vínculo capitalista incide significativamente sobre o “re-encontro” do homem com “a racionalidade real que é a espiritualidade. Na verdade remonta à condição do homem que o distingue como ser transcendente. Deixar de ser alguém espiritualizado significa recair a uma condição de vida animalesca e irracional. A espiritualidade compete junto à razão, a completude do que deve ser o homem.

A irracionalidade provoca a perda dos subsídios de humanidade; ou seja, a solidariedade, o amor, a justiça essencial, a sociabilidade, etc.

Como já dizia Leonardo Boff:

“A história não é linear. Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, de idéias e de projetos que num dado momento introduzem uma ruptura e então o novo irrompe com vigor a ponto de ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças. Instaura-se então outro tempo e começa nova história.” Fonte: Por Leonardo Boff do site Adital http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&cod=49267&lang=PT Acessado dia 14/05/2010 às 12h41;

O que hoje ocorre é a exaustão das nossas idiossincrasias e excentricidades humanas, e à explosão e o transbordo das ações emburrecidas pela falta de fé; reavivando a condição de espiritualização das ações, atitudes em busca de uma divindade a que se possa filiar.

Bela a textualidade da campanha da fraternidade; que me parece uma solicitação à insurreição aos valores podres e fétidos do mundo consumista.

Toda a filosofia ou ideologia, que deteriora a existência humana, não é aplicável, justamente por que deixaremos de viver.

Cuidar da natureza sob a égide da sustentabilidade, recorre também aos termos da necessidade de legarmos grandeza e importância aos elementos não tangíveis da espiritualidade.

Servir a Deus ou ao consumismo exacerbado, à compulsão da compra, da economia mesquinha e egoísta?

Lançar o pão sobre as águas ou guardar o maná de um dia para o dia seguinte, para decepcionar-se com os vermes que atuam como saprófitas purificando o alimento das mazelas de nossas ansiedades doentias? (Eclesiastes 11:1 a 3 e Êxodo 16: 16 a 22).

Buscai a Deus enquanto é tempo... Buscai PRIMEIRO o Reino dos Céus e as outras coisas vos serão acrescentadas.

Edson – o Zóio

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